segunda-feira, 23 de abril de 2012

Por que ser jornalista – uma paixão além do diploma

Numa quarta-feira, dia 17 de Junho de 2009, por oito votos a um, o – Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucional a exigência da graduação em jornalismo para o exercício da profissão, em votação do Recurso Extraordinário 51.1961, em suma a partir dessa data não seria preciso ter diploma para exercer a profissão de jornalista. 
Na época, só para relembrar, os ministros Gilmar Mendes, Carmen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Carlos Britto, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Celso de Mello votaram contra a exigência, enquanto Marco Aurélio Mello votou a favor da obrigatoriedade do diploma. Não esquecendo que um desses “capa preta” argumentou que jornalismo era uma profissão de liberdade de expressão, que neste caso até uma empregada doméstica poderia fazê-lo. Não tenho nenhum preconceito, se a auxiliar do lar estiver apta também concordo. O que não podiam era “confundir liberdade de expressão e de imprensa e direito de opinião com o exercício de uma atividade profissional especializada, que exige sólidos conhecimentos teóricos e técnicos, além de formação humana e ética”, Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj). 
Senti-me roubado, totalmente impotente, no momento em que soube da decisão passou um filme em minha cabeça, quantas noites de sono perdidas para me dedicar à faculdade, a saudade da família e a certeza de estar fazendo algo digno e pelo caminho certo. O golpe final veio através do Jornal Nacional (noticiário da poderosa Globo), William Bonner, todo elegante disse ao povo brasileiro que o STF só ratificou uma “prática do mercado”. Parece até aquela safadinha, “É a ética do mercado, entendeu?”, Renata Cavas ex-gerente da Rufolo Serviços Técnicos e Construções, em matéria do Fantástico sobre corrupção em repartição pública. 
O DIA DO DIPLOMA
Minha impotência foi ainda maior ao ver que poucos jornalistas se indignaram, não houve mobilização em massa, uma demonstração que classe desunida jamais vencerá. Nossa luta hoje, não deveria ser pela volta do diploma, mas por uma entidade representativa, nos moldes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), sem essa de que jornalista não gosta de advogado, precisamos aprender sobre corporativismo com eles. 
Minha revolta não passou, ainda discuto na rua, nas rodas com amigos ou profissionalmente sobre a importância do jornalista ter uma formação acadêmica. Por desilusão havia me esquecido por que fiz o curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo. Mas, recentemente a chama acendeu novamente, meu orgulho voltou à cena, a cachaça do jornalismo reapareceu ainda mais forte, tudo isso ao ler O Dossiê Iscarioteses, do jornalista Marcos Losekann (leia - Uma noite de insônia com Iscariotes). 
O livro é o primeiro de uma trilogia - O dossiê Iscariotes (2006), O segredo do Salão Verde (2007) e Entre a cruz e a suástica (2009). Nos três, o personagem principal é o jornalista Anderlon Gonçalves Varderês, mais conhecido como AGV, um profissional consagrado e apaixonado pela profissão. 
Sem querer resenhar o livro, na primeira parte da trilogia, AGV ateu convicto, trava um feroz diálogo com uma luz que pode ou não ser Deus, em meio essa transformação o jornalista cobre a rebelião de uma penitenciária de Manaus, a morte do seringueiro Chico Mendes e se envolve em uma conspiração política macabra. 
Todos esses ingredientes e a paixão de AGV pelo jornalismo me fez refletir como é gostoso ser jornalista, como foi, e é importante para mim as intermináveis discussões realizadas nos corretores da faculdade ou em sala de aula. Como aprendi com meus amigos de universidade e também com os profissionais que conheci na minha jornada inacabada de jornalismo. 
Nada, nem ninguém, até mesmo o STF tiram de mim esse diploma. Não estou falando do papel, mas da paixão de informar, de saber interpretar as notícias, de apurar, de ser o emissor e acima de tudo ser o comunicador, que escuta e descreve os fatos, para que a mídia faça o "estímulo/resposta” (alguém aí se lembra da Teoria Hipodérmica ou Agulha Hipodérmica?). Se não, vale a pena lembrar: “Confundir liberdade de expressão e de imprensa e direito de opinião com o exercício de uma atividade profissional especializada, que exige sólidos conhecimentos teóricos e técnicos, além de formação humana e ética”, é um erro. 

Um comentário:

  1. Não sou jornalista mas sou um amante das palavras e fiquem tão indignado quanto você. Total falta de respeito com uma classe que já sofre tanto com trabalhos informais e mal pagos, com essa então! Parabéns pelo texto e pela paixão pela profissão, quem dera todo profissional fosse assim, bom exemplo para os tais "capa preta", rsrs.

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